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Coluna Vitor Vogas

Bastidores: saiba como Audifax realmente conseguiu garantir o apoio do Avante

Apoio do Avante ao ex-prefeito na eleição ao governo do ES foi anunciado na terça (5). O que não foi revelado foi o favor prestado por Audifax a Luís Tibé, deixando o cacique nacional do partido “em dívida política” com ele. Acordo está costurado desde abril

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Audifax Barcelos. Foto: Facebook

Em 2008, no início de sua então promissora trajetória política, Audifax Barcelos sofreu um revés que lhe ensinou, de maneira traumática, lições para o resto da vida, relacionadas à “política como ela é”. Naquela oportunidade, mesmo sendo um prefeito bem avaliado em fim de primeiro mandato, ele simplesmente ficou sem partido para disputar a reeleição. Audifax estava no PDT, e o presidente estadual da sigla, Sérgio Vidigal, simplesmente não lhe deu legenda para concorrer, pois queria (e conseguiu) voltar à Prefeitura da Serra no lugar do então pupilo.

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Lição número 1: seja o cacique regional do seu próprio partido. O sistema partidário brasileiro está longe de ser o ideal, mas é com ele que temos que lidar. E, se nesse sistema corroído você tem aspirações de chegar a algum lugar, a primeira coisa a fazer é garantir o controle de um partido em seu próprio reduto eleitoral. Assim você evita rasteiras de outros caciques regionais;

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Lição número 2: articule-se com caciques nacionais do seu próprio partido e de outros. Caciques estaduais reúnem-se muito em volta da fogueira, fazem muita fumaça, mas apitam pouco. Quase sempre, a palavra final fica com os dirigentes nacionais. Cultivar boas relações com eles pode não só impedir que você sofra pernadas vindas de Brasília e seja obrigado a engolir decisões superiores que contrariem seus planos eleitorais… Pode, ainda, permitir que você negocie acordos favoráveis a seus projetos locais diretamente com o comando maior de outras siglas, por cima das cabeças de seus dirigentes estaduais.

Audifax, pelo visto, aprendeu a jogar o jogo e a fazer política partidária. Sua agem pela Câmara dos Deputados, entre 2011 e 2012, foi curta (e pouco reluzente), mas lhe permitiu iniciar uma rede de contatos políticos que agora lhe rende dividendos, nas articulações de sua candidatura a governador do Espírito Santo. Exemplo bem-acabado disso foi a operação sigilosa conduzida por ele há meses e que agora resulta no inesperado anúncio do apoio nacional do Avante à sua candidatura pela Rede Sustentabilidade.

Anunciado nesta terça-feira (5) pela assessoria da pré-campanha de Audifax, o apoio do Avante ao ex-prefeito na corrida ao Palácio Anchieta pegou de surpresa o presidente estadual do próprio Avante, Marcel Carone, que trabalha para viabilizar a candidatura ao Senado do pastor e influenciador digital Nelson Junior, filiado ao partido. “De surpresa”, não. Segundo o empresário Aldeci Carvalho, articulador político da pré-candidatura de Nelson ao Senado, o anúncio foi motivo de “grande surpresa” para eles.

A princípio, a direção local do Avante não tem o menor interesse em se coligar com a Rede no Espírito Santo, nem em apoiar Audifax ao governo, muito menos em lançar ao Senado um pastor conservador de direita pelo palanque do ex-prefeito da Serra, cujo partido (Rede) faz parte de uma federação com o Psol.

Só que não faz diferença, nesse caso, a preferência dos dirigentes locais do Avante. Esse navio já zarpou, por cima das cabeças deles. Audifax amarrou essa aliança diretamente em Brasília (ou Minas Gerais, no caso) e deu um nó tático nos representantes do Avante em solo capixaba.

Chancelado pelo presidente nacional do Avante, Luís Tibé, o apoio do pequeno partido a Audifax na eleição ao governo do Espírito Santo já está fechado desde abril. O acordo foi costurado pessoalmente pelo ex-prefeito da Serra com Tibé, deputado federal por Minas Gerais, com três mandatos seguidos na Câmara.

O mineiro de BH é de fato o que se pode chamar de um clássico “cacique partidário”: comanda o Avante (antigo PTdoB) no país desde 2006, quando Audifax ainda estava em seu primeiro mandato na Serra. Audifax o conheceu durante seu biênio em Brasília, há pouco mais de uma década. Os dois chegaram juntos à Câmara Federal, em fevereiro de 2011. Desde então, o ex-prefeito manteve boas relações com o ex-colega e cacique nacional do Avante. E isso agora lhe rende frutos.

Segundo a assessoria de Audifax e a porta-voz da Rede no Espírito Santo, Laís Garcia, essa boa relação pessoal foi determinante para o ex-prefeito garantir o compromisso de Tibé em lhe prestar o apoio do Avante – agora tornado público. Mas houve mais que isso. Perto do fim do prazo para filiações de pré-candidatos a qualquer cargo eletivo este ano (2 de abril), o ex-colega na Câmara dos Deputados entrou em contato com Audifax, pedindo-lhe uma ajuda. E este lhe fez um favorzão, o qual agora é pago com juros.

Naquela altura, atendendo a um pedido direto de Tibé, o ex-prefeito da Serra filiou ao Avante dezenas de pessoas ligadas a seu grupo político (veja lista em nota, no fim desta coluna). Essa intervenção direta de Audifax foi fundamental para garantir a sobrevivência da chapa de candidatos a deputado federal do Avante no Espírito Santo, que esteve a ponto de desabar completamente no dia 2 de abril – principalmente com a migração do jornalista Philipe Lemos do Avante para o PDT, a pedido do governador Renato Casagrande (PSB), a minutos do apito final (à meia noite do dia 2 para o dia 3 de abril).

Em troca, Tibé comprometeu-se a recompensar Audifax, pagando a sua ajuda com o apoio do Avante na eleição ao governo do Espírito Santo.

Com a transferência desse grupo de aliados políticos de Audifax para o Avante, o partido não terá votos suficientes para eleger um deputado federal pelo Espírito Santo (nem perto disso, aliás…). Mas, pelo menos, terá uma chapa de candidatos a deputado federal para apresentar e concorrer. E isso não é pouca coisa para Luís Tibé e a direção nacional do Avante, devido a um fator crucial, ignorado pela população em geral, mas capaz de tirar o sono dos dirigentes partidários: a temida “cláusula de desempenho”.

Para a cúpula nacional do Avante – bem como a de qualquer sigla de pequeno porte –, o mais importante é conseguir superar a exigente cláusula de barreira imposta a todos os partidos políticos nas eleições deste ano: para continuar existindo de verdade nos próximos anos, o partido e seus candidatos a deputado federal precisam receber pelo menos 2% dos votos válidos para esse cargo, no Brasil inteiro, no dia 2 de outubro.

A estimativa é que isso signifique pelo menos 2 milhões dos cerca de 100 milhões de votos válidos para deputado federal previstos para todo o país. Em 2018, contando votos individuais e de legenda, os eleitores brasileiros deram 98,3 milhões votos válidos para deputado federal; os capixabas deram exatos 1.933.018 votos válidos para esse cargo. Neste ano, o total de eleitores aptos a votar deve ser um pouquinho maior.

Assim, proporcionalmente, no Espírito Santo, a chapa de federais de um partido precisa obter pelo menos 40 mil votos para superar a marca de 2% dos 2 milhões de votos válidos previstos para o nosso estado. É essa a conta feita pelos caciques partidários. E é isso que espera Tibé: que, no Espírito Santo, a chapa de federais do Avante dê a sua contribuição para a superação da cláusula de barreira, batendo nos 40 mil votos. E foi isso que, a priori, Audifax o ajudou a assegurar. Não só ajudou Tibé a “salvar” a chapa de federais do Avante no Espírito Santo como pode ajudá-lo a ultraar a cláusula de desempenho.

Como uma mão lava a outra, Tibé ficou “em dívida política” com Audifax. E, em retribuição à ajuda do ex-prefeito para cumprir seu objetivo central, assumiu, em nome do Avante, o compromisso de apoiá-lo na eleição ao governo do Espírito Santo, em um acordo, repita-se, amarrado pessoalmente por Audifax, desde abril, com o cacique nacional desse partido.

“O partido está sem cabeça”

“Na verdade, no Espírito Santo, o Avante está sem cabeça”, diz um interlocutor da pré-campanha de Audifax. Haveria, inclusive, a possibilidade de intervenção, nos próximos dias, da direção nacional do Avante no comando estadual do partido.

Com efeito, uma simples busca no banco público de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela algo intrigante: segundo consta no site oficial do tribunal, o mandato do empresário Marcel Carone, como presidente estadual da Executiva Estadual provisória, venceu no último dia 1º de maio – e, pelo que consta na página, ainda não foi renovado. Aliás, o órgão provisório inteiro está inativo desde a referida data.

Questionado pela coluna, Carone respondeu que seu mandato na presidência estadual será, sim, renovado:

“Vai, sim! Será regularizado em breve, haja vista que falta apenas um nome para concluirmos a nova composição da direção”, disse o dirigente. E completou:

“Estou fazendo uma grande reformulação na direção estadual do partido. Esse processo tem sido conduzido sem pressa e com muita calma. Tenho buscado dialogar, em todas as regiões do estado, com pessoas que possam verdadeiramente contribuir com o projeto que estamos desenvolvendo no Espírito Santo, que é de curto, médio e longo prazo. É importante que essas pessoas tenham representatividade, se identifiquem com o nosso conceito de trabalho e, principalmente, tenham perfil equilibrado, que, na minha opinião, é o que a política mais precisa nos dias de hoje.”

A lista de Audifax

Eis a relação parcial de “reforços” que Audifax filiou ao Avante, perto do prazo de 2 de abril. Todos entraram no partido para concorrer a deputado federal. E todos farão campanha para Audifax a governador:

. A ex-vereadora da Serra Sandra Gomes (mulher do ex-deputado estadual Gilson Gomes);

. O ex-vereador de Laranja da Terra Gilsinho Gomes (filho de Gilson Gomes);

. O ex-vereador da Serra Miguel da Policlínica;

. A professora Renata Sepulcro (vice na chapa de Fábio Duarte, da Rede, a prefeito da Serra, em 2020);

. A empresária de Cariacica Ivonete Fonseca;

. O professor Renato de Andrade (candidato ao Senado em 2010 pelo Psol);

. O pastor Robson Nascimento (da Igreja Presbiteriana em Cariacica);

. A empresária de Colatina Viviane Meneguelli (filha do falecido deputado estadual João Meneguelli e prima do ex-prefeito Sergio Meneguelli).

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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