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Coluna Vitor Vogas

Colnago sai do PSDB para se manter vivo na eleição ao governo do ES

Aliado histórico de Paulo Hartung, ex-vice-governador se filiará ao PSD, partido que também receberá a pré-candidatura de outro hartunguista: Guerino Zanon

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Após três décadas de militância, César Colnago assina pedido de desfiliação do PSDB. Foto: Facebook de César Colnago

Depois de 30 anos de militância no PSDB, o ex-vice-governador César Colnago, 63 anos, assinou nessa quarta-feira (30) seu pedido formal de desfiliação do partido ao qual dedicou metade de sua vida. Surpreendente para quem viu Colnago exercer sete mandatos pela agremiação, a atitude foi tomada por ele com um propósito prático bem claro e declarado por ele mesmo: manter-se vivo, com protagonismo, nas eleições ao governo do Espírito Santo neste ano. Para isso, Colnago também comunicou a filiação, antecipada pela coluna, ao Partido Social Democrático (PSD).

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Colnago, a princípio, apresenta-se como pré-candidato ao Palácio Anchieta, mas estava sem espaço e sem legenda no PSDB, partido que ele chegou a presidir, mais de uma vez, no Espírito Santo. Agora, sob a presidência do deputado Vandinho Leite e a influência de agentes como o ex-senador Ricardo Ferraço, o PSDB está inclinado a apoiar novamente a candidatura de Renato Casagrande (PSB) – assim como fez em 2018, também sob influência de Ricardo e também contra a vontade de Colnago.

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O agora ex-tucano discorda desse caminho, segundo ele pré-estabelecido, para o PSDB do Espírito Santo. “O Espírito Santo merece mais”, escreveu Colnago em um post publicado à noite em seu Facebook, logo após a entrevista coletiva dada em sua residência na Mata da Praia, na qual confirmou sua decisão.

Na coletiva, Colnago também confirmou que os projetos divergentes (o dele e o do próprio PSDB) foram o fator determinante para sua desfiliação:

“Esse é o ponto central. Eu tenho um partido nacional, tenho 33 anos de filiação, sete mandatos completamente limpos, fui presidente do Conselho Nacional de Ética [do PSDB]… aí vejo uma tendência do partido aqui de ir com Renato [Casagrande]. Pode até ir, discutido e decidido na hora certa, mas não antecipadamente. A nacional me disse para esperar. Só que eu tenho uma decisão até o dia 2 de abril, que é partidária [o prazo final para filiação de pré-candidatos]. Eu vou esperar? Eu resolvi não esperar.”

Agora Colnago ingressa no PSD, sem exigências nem pré-condições, mas disposto a disputar internamente a legenda para representar o partido na eleição a governador. Se ele se julga competitivo, após quase quatro anos sem mandato? “Eu tenho pesquisa. Meu nome está completamente preservado na sociedade.”

No PSD, a priori, Colnago realmente estará mais confortável, ou mais bem ambientado. Agora presidido pelo ex-deputado Zé Carlinhos – operador político de Paulo Hartung –, o partido tem se consolidado como um refúgio, ou incubadora, para os remanescentes do núcleo político invisivelmente liderado pelo ex-governador no Espírito Santo.

E Colnago é, historicamente, um dos maiores e mais leais aliados de Hartung no Espírito Santo, parceria que remonta aos tempos de movimento estudantil na Ufes (PH no CCJE, Colnago no Centro de Biomédicas), a pela Prefeitura de Vitória e se estende até as três istrações de Hartung no Estado (Colnago foi, nesta ordem, líder do governo na Assembleia, secretário estadual de Agricultura e vice-governador de Paulo Hartung).

Assim, logicamente, a pré-candidatura de Colnago deve ser compreendida no contexto das articulações à distância de Hartung para fazer frente à candidatura de Casagrande à reeleição.

Ué, mas e Guerino Zanon?

Só tem um “detalhe” que pode comprometer um pouco os planos do agora ex-tucano de ser o cabeça da chapa do PSD: como partícipe do mesmo grupo, o prefeito de Linhares, Guerino Zanon, também pré-candidato a governador, está prestes a migrar do MDB para o mesmo bunker hartunguista. Guerino também deve entrar no PSD e também chega ao partido como pré-candidato ao governo. Como só há lugar para um “cabeça” em cada chapa majoritária, um dos dois terá que ceder: ou Colnago ou Guerino.

Nada que incomode ou preocupe Colnago, muito pelo contrário. Na verdade, informações fornecidas por ele mesmo na sua entrevista coletiva indicam que toda essa construção está sendo feita coletivamente e em comum acordo entre os hartunguistas – inclusive com Guerino:

“Nós estamos conversando e vamos nos entender sobre como adotaremos um processo de escolha. Pode ser por disputa de prévias ou pode ser por análise de viabilidade: pesquisas qualitativas e quantitativas. Não tem só vaga de governador. Tem também vaga de vice-governador e de senador. Mas a resposta principal é: vamos ver quem é mais viável e mais competitivo. Nós dois temos uma história.”

Como se aduz da fala de Colnago, ele está “de boaça” com Guerino. Tanto que ele e o prefeito conversaram pessoalmente duas vezes nos últimos dias: semana ada na residência dele e, na última segunda-feira (27), no Hotel Senac, na Ilha do Boi. Já com Zé Carlinhos – que fala por Hartung –, Colnago esteve na segunda (27) e na terça (28).

E é importante ressaltar: Colnago entra no PSD – e na eleição majoritária para valer – dizendo-se predisposto a ocupar qualquer posição em uma chapa majoritária puro-sangue ou a ser formada pelo PSD com outros partidos: sua prioridade é emplacar a candidatura a governador, mas ele topa, se a construção conduzir a isso, entrar numa composição como candidato a senador ou até a vice-governador.

Pela  ordem

Para não dar margem a dúvida, melhor dar voz ao próprio Colnago. Pela ordem, companheiros:

Governador? “Sim.”

Vice-governador? “Sou vascaíno e já fui vice demais [risos]. Falando sério, já fui vice-governador. Estou entrando para colaborar. Posso abrir a vaga de vice para uma composição [do PSD] com outro partido.”

Senador? “Posso até ser. Isso a pela discussão [do PSD] com outros partidos.”

Deputado federal ou estadual? “Já fui. Não serei candidato a deputado.”

Lelo no PSD

Que ninguém se espante se Lelo Coimbra (MDB) também se filiar nos próximos dias ao PSD e se vier a integrar a chapa do agora partido hartunguista à Câmara Federal. Lelo é outro histórico hartunguista e, assim como Colnago, é ex-deputado federal e também ex-vice-governador de Paulo Hartung (2003-2006), no primeiro mandato deste.

Nota oficial do PSDB-ES

Sobre a desfiliação de Colnago, o vice-presidente estadual do PSDB, Oziel Andrade, emitiu a seguinte nota:

“O PSDB é um partido que preza e sempre prezou pela democracia e liberdade de escolha de seus filiados. Dessa forma, o tucanato capixaba recebe com muita naturalidade a desfiliação do ex-vice-governador César Colnago, agradecendo ao mesmo por sua contribuição e o desejando sucesso em sua jornada!”

Carimbo de tucano na biografia

Médico por formação (Ufes), César Colnago tem 33 anos de atividade política quase inteiramente vividos nas fileiras do PSDB – não fosse por um hiato de cerca de três anos, no fim dos anos 1990, quando ou pelo PPS (atual Cidadania) por divergências com o governo do então tucano José Ignácio Ferreira.

Ao longo dessas três décadas, exerceu sete mandatos: três na Câmara de Vitória, dois na Assembleia Legislativa (eleito em 2002 e 2006), um na Câmara dos Deputados (2011-2014) e um como vice de Hartung (2015-2018). No mandato de Hartung à frente da Prefeitura de Vitória (1993-1996) e no segundo governo Hartung no Estado (2007-2010), comandou várias secretarias. No biênio 2005-2006, presidiu a Assembleia Legislativa.

Em 2018, tentou sem sucesso viabilizar candidatura ao governo, depois que Hartung decidiu não concorrer à reeleição. Acabou concorrendo e sendo derrotado na eleição a deputado federal. “Foi uma candidatura meio no improviso”, atenua.

Servidor efetivo da Secretaria de Estado de Saúde, Colnago atualmente trabalho no setor de planejamento da pasta.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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