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Coluna Vitor Vogas

Os bastidores do lançamento de Casagrande à reeleição pelo PSB

O “mistério” do governador, as alianças estaduais, a ausência do PT e de alguns aliados, o incômodo que o PP está gerando e os novos filiados ao PSB

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Renato Casagrande (de costas, ao centro), no congresso estadual do PSB (27/03/2022). Foto: Hélio Filho/Secom 

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A militância entoou: “Ô, Casagrande, presta atenção: os capixabas querem sua reeleição!” As selfies com ele foram incontáveis. E, para completar o clima eleitoral, até o surrado jingle da campanha de retorno ao Palácio Anchieta em 2018 foi “tirado da gaveta” e executado. Nessa atmosfera, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) lançou na manhã deste domingo (27), aos gritos de “Fica, Casão!”, a candidatura do governador Renato Casagrande à reeleição. O lançamento foi feito pela militância e pela direção estadual do partido do governador, durante o congresso estadual da agremiação, realizado em um cerimonial de Santa Lúcia, em Vitória.

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O ato político teve caráter muito mais simbólico que qualquer outra coisa e não significa nenhuma decisão oficial. Presente ao congresso como “atração mais aguardada”, Casagrande foi o último de uma longa fila de oradores. Não confirmou a candidatura e, diante dos correligionários, repetiu o discurso que tem mantido, inclusive em entrevista a este espaço: só tomará sua decisão entre maio e junho.

Tudo dentro do script, na verdade. É o que reza o manual político nesse tipo de situação, em se tratando de governadores em fim de mandato e à beira da campanha à reeleição. A se seguir o roteiro habitual, daqui para a frente até meados de julho, a pré-candidatura de Casagrande deve ser colocada na conta do partido; ou seja, de agora até o período das convenções, não é Casagrande quem dirá que é candidato, mas o partido quem dirá por ele que quer tê-lo como candidato.

Cumprindo sua parte no jogo de cena, quando enfim chegar o momento de assumir a candidatura, o governador deverá dizer que “ouviu o chamado da militância”, “atendeu ao apelo do partido” etc.

É uma estratégia tão antiga quanto legítima e prudente, muito comum a governantes que estejam prestes a entrar numa campanha à reeleição e que se mostrem em condições de competir. Por que queimar a largada? Por que dar munição aos oponentes?

“Escondendo o jogo”, o governador não se expõe antes da hora e não se deixa vulnerável a acusações por parte de adversários – por exemplo, a de que estaria “desviando o foco do governo para se preocupar com a própria reeleição”. “O Estado neste momento precisa mais de um governador do que de um candidato a governador”, tornou a dizer Casagrande neste domingo, em discurso à militância.

Mas, cá para nós, é só uma questão de tempo. O governador tem dito, e repetiu isto em sua fala no congresso, que o seu projeto terá, sim, representante na eleição ao governo. Ora, se não ele mesmo, quem? O PSB não tem outro quadro à sucessão governamental.

Além disso, o que poderia levar Casagrande a “repetir Paulo Hartung em 2018” e abdicar de uma “candidatura natural” à reeleição, estando em pleno exercício do cargo? Questionado sobre isso pela coluna em entrevista publicada no dia 14, o próprio Casagrande foi evasivo e não muito convincente: “Não sei bem o que poderia me levar [a não ser candidato]… questões pessoais e políticas”.

De novo: é só uma questão de tempo. Mas, enquanto a hora certa não chega, os militantes do PSB se animam e se aquecem para a campanha. No congresso, mostraram entusiasmo.

“Acho natural”, comentou Casagrande. “O partido tem essa empolgação, esse impulsionamento, mas ainda não é hora de a gente decidir esse assunto de candidatura. O governo tem muitos desafios que temos que implementar. Temos aí meses pela frente antes de começar a eleição. Eu só decidirei mesmo se serei candidato no final de maio e início de junho. Falei isso aqui publicamente, inclusive. Mas acho natural que o partido esteja empolgado e buscando me convencer a ser candidato.”

Faz parte do jogo (de cena).

PSB nacional com Lula

No seu discurso, Casagrande mencionou a decisão da Executiva nacional do PSB de se coligar com o PT e apoiar Lula na eleição presidencial. Nas palavras do governador (que preferia uma terceira via), trata-se de um caminho natural e coerente com a história do PSB (parceiro histórico do PT na centro-esquerda):

“É o caminho que o partido está construindo nacionalmente. É uma posição natural do partido, histórica. Não tem nada que fuja do bom senso e da história do PSB”, disse Casagrande. Ele também citou Ciro Gomes (ex-PSB): “Outro caminho que nós temos é o do Ciro, do PDT, uma figura de quem a gente gosta muito”.

No fim do congresso, perguntamos a Casagrande se ele seguirá a resolução nacional do PSB e apoiará Lula. Também nisso ele joga com o tempo: “Vou anunciar todas essas decisões na hora em que eu de fato começar a debater a eleição. É natural o PSB ter esse caminho, porque é um caminho da história do PSB. E a minha posição, eu vou deixar para cravá-la na hora em que eu começar a debater a eleição”.

Renato Casagrande, no congresso estadual do PSB (27/03/2022). Foto: Hélio Filho/Secom

Alianças estaduais

No discurso, Casagrande garantiu que, na eleição estadual, o PSB repetirá a ampla aliança das eleições ao governo disputadas por ele (2010, 2014 e 2018), em conformidade com a história do partido. “Vamos fazer alianças amplas de novo para proteger este projeto exitoso. É um projeto que está revolucionando diversas áreas públicas neste Estado.”

Segundo ele, os arranjos eleitorais nacionais não vão se reproduzir verticalmente no Espírito Santo. Podemos dar alguns exemplos:

Fora da coligação PT-PSB, o Podemos deve ter candidato próprio à Presidência (Sergio Moro), mas com certeza apoiará Casagrande no pleito estadual. O mesmo vale para o PDT de Ciro. O PP também estará com Casagrande aqui, apesar de apoiar a reeleição de Bolsonaro. A federação do PDSB com o Cidadania deve concorrer à Presidência com João Doria, mas também pode ficar com Casagrande aqui.

PT ausente

Falando em potenciais aliados, outros partidos estiveram representados no congresso do PSB, como o Podemos, o PP, o PDT, o PV, o PCdoB, o PSDB e o Cidadania. Mas o que mais se destacou foi uma ausência: não houve representação do PT. Segundo o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, a sua equivalente no PT, Jackeline Rocha, ligou para ele no sábado para justificar a ausência por motivos pessoais. O mesmo, segundo Gavini, fez o vice-presidente estadual do PT, João Coser.

Bom lembrar que o PT também tem pré-candidato a governador do Estado: o senador Fabiano Contarato.

Outras ausências sentidas

Apesar de terem mandado representantes, também chamou a atenção a ausência dos presidentes estaduais de alguns partidos importantes da coalizão de Casagrande, como Gilson Daniel (Podemos) e Marcus Vicente (PP). A senadora Rose de Freitas, presidente estadual do MDB, também não compareceu. Segundo Casagrande, Gilson Daniel não pôde ir, mas se fez representar por alguém.

Ruídos nas articulações?

À coluna, o governador negou que esteja havendo qualquer atrito ou ruído entre os dirigentes dos partidos aliados em decorrência da montagem das chapas de deputados estaduais e federais. “Nenhum ruído. Zero. Agora está todo mundo a mil, todos os dirigentes partidários.”

PP está incomodando

É fato, porém, que o iminente superdimensionamento do PP tem causado incômodo entre outros aliados do governo. O partido tem atraído quadros de outras siglas e tende a formar chapas muito fortes para as disputas proporcionais. Em tom de gozação, o presidente estadual do PDT, Weverson Meireles, deixou escapar o desconforto em seu discurso: disse a Casagrande que será preciso pedir ajuda internacional à Otan, “para o todo-poderoso PP não invadir tudo”.

Novas filiações

No congresso do PSB, alguns também am a ficha de filiação e oficializaram a chegada (ou retorno) ao partido. Entre eles, os deputados estaduais Janete de Sá (ex-PMN) e Luciano Machado (ex-PV), ambos da base, além da secretária estadual de Direitos Humanos, Nara Borgo. Nara teve a ficha abonada por Casagrande.

Secretária estadual de Direitos Humanos, Nara Borgo, filia-se ao PSB durante congresso estadual do partido. Foto: Hélio Filho/Secom

Apelos a “Casão”

Em sua fala, o presidente do PSB-ES, Gavini, foi comedido no apelo público: “Quero pedir ao governador Renato Casagrande que, no momento oportuno, lance seu nome à reeleição”. Dentro do script, como dissemos. Os chamados mais empolgados partiram da vice-governadora Jaqueline Moraes e do deputado estadual Bruno Lamas, ambos do PSB.

Os puxadores

Chamando o governador de “abrigo no deserto”, “luz na escuridão”, entre outros epítetos, Jaqueline puxou gritos de “Fica, Casão!”. Bruno, por sua vez, puxou os gritos de “Renato!”. “Eu, na minha humildade, na minha simplicidade e na minha convicção, vou pedir permissão para fazer o lançamento: Renato candidato à reeleição. O nome é fácil: o nome é Renato!”

A fala de Neto Barros

Já o ex-prefeito de Baixo Guandu Neto Barros (PCdoB) defendeu a formação de uma ampla frente progressista para derrotar o bolsonarismo em outubro. “Precisamos unir forças numa frente ampla contra o bolsonarismo, contra essa gente que invade hospitais, contra essa gente que coloca trio elétrico em frente à casa da sua mãe, governador, que só faz essa política baixa. É contra essa gente que precisamos reunir os democratas liberais, progressistas e conservadores.”

Federação de esquerda

A propósito, integrados à base de Casagrande (com assentos no secretariado) e representados no congresso do PSB neste domingo, PCdoB e PV formarão uma federação com o PT. Esses três partidos necessariamente estarão juntos em todos os estados.

PSDB e Cidadania

O presidente estadual do PSDB, Vandinho Leite, acenou para o PSB com a possibilidade de aliança estadual. “Não votei nem votarei no PT. Mas, no Espírito Santo, é muito provável a aliança [do PSDB com o PSB, logo talvez com o PT], devido à capacidade de articulação de um agente público, que é o governador Renato Casagrande.”

Já o presidente estadual do Cidadania, Fabrício Gandini, chamou o seu partido e o PSDB de “partidos irmãos” (devido à iminente federação) e lembrou que eles têm projeto diferente do PSB na eleição presidencial, citando Doria e o ainda tucano Eduardo Leite. Mas, no Espírito Santo, o Cidadania apoia o governo Casagrande e também está assentado no secretariado.

Chapa de federais

A chapa de candidatos a deputado federal do PSB terá nomes como Freitas, Luciano Machado, Ted Conti, Givaldo Vieira, Jaqueline Moraes, Paulo Folleto e, talvez, Sérgio de Sá. De acordo com o presidente Gavini, o desafio para fechar a chapa é escalar as mulheres que faltam. Pela regra da cota de gênero, elas devem ser no mínimo quatro dos 11 candidatos em cada chapa.

Nara e Cyntia na mira

Embora recém-filiada, Nara Borgo repetiu que não será candidata, mas Gavini afirma que ainda não desistiu de convencê-la. Outra que está na sua alça de mira é a secretária estadual de Trabalho, a técnica Cyntia Grillo (sem partido). Gavini também tem tentado persuadi-la a se filiar e se candidatar pelo PSB. Para isso, ambas precisam deixar as respectivas secretarias até o próximo sábado (2), senão estarão inabilitadas a disputar o pleito.

PSB filia deputados Janete de Sá e Luciano Machado durante congresso estadual. Foto: Hélio Filho/Secom

Chapa de estaduais

Quanto à chapa de candidatos a deputado estadual, o PSB tem nomes como Tyago Hoffmann, Dary Pagung, Bruno Lamas, Toninho da Emater, Patrícia Crizanto e, agora, Janete de Sá.

No lugar de Foletto

O atual diretor-presidente do Idaf, Mário Louzada (PSB), pode deixar de concorrer a deputado estadual. É cotado para substituir Paulo Foletto como secretário estadual de Agricultura. Foletto se desligará do cargo até sábado e retomará o seu mandato na Câmara dos Deputados, no lugar de Ted Conti, para disputar a reeleição.

Odmar Péricles ao Senado

O subsecretário estadual de Trabalho, Odmar Péricles (PSB), anuncia que entregará o cargo e que é pré-candidato ao Senado na chapa majoritária do partido. Ele é militante histórico do PSB e auxiliar de Casagrande desde os anos 1980, tendo participado de todas as campanhas eleitorais do governador.

Denninho pode ir para o SD

Enquanto isso, a direção do Cidadania homologou acordo judicial com o vereador de Vitória Denninho. Assim, ele fica liberado para trocar de legenda, sem correr o risco de o Cidadania requerer o seu mandato à Justiça Eleitoral. Neste ano, a janela de transferência partidária, que se fecha na próxima sexta-feira (1º), não vale para vereadores. Comenta-se que Denninho pode trocar a candidatura a deputado estadual pela de federal. E pode ir para o Solidariedade (SD).

Sob nova direção

Com a saída de Janete de Sá, o PMN agora está sob a presidência estadual de Fabiano de Almeida.

Guerino se articula

Os últimos dias foram de intensas articulações por parte do prefeito de Linhares, Guerino Zanon, em Vitória, para viabilizar sua candidatura ao governo (possivelmente, pelo PSD).

Torino no PTB

Aliadíssimo do pré-candidato a governador Carlos Manato, o deputado estadual Torino Marques filiou-se ao PTB na noite da última sexta-feira (25). O partido de Roberto Jefferson faz parte do arco de influência de Manato e, recentemente, também recebeu a deputada federal Soraya Manato, esposa do ex-deputado. Torino saiu do União Brasil.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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