Coluna Vitor Vogas
Crise no União Brasil: Dr. Gustavo Peixoto rasga o verbo contra Rigoni
Os dois são candidatos a deputado federal pelo partido. Segundo o médico, Rigoni é “a maior fraude eleita” e está descumprindo promessas relativas à partilha do Fundão. Secretaria do partido rebate
Definitivamente, o União Brasil não está fazendo jus ao nome – pelo menos não no Espírito Santo. Desde o início deste processo eleitoral, o partido já vinha dando mostras de cisões. Veladamente, circulavam comentários sobre insatisfações de alguns candidatos com o presidente estadual da sigla, o deputado federal e candidato à reeleição Felipe Rigoni. Agora, o médico Gustavo Peixoto, candidato a federal na mesma chapa, resolveu rasgar o verbo.
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Em ato de campanha na noite desta quinta-feira (22), em uma casa de shows da Praia do Canto (Vitória), Peixoto chamou Rigoni, seu companheiro de partido, de “a maior fraude que foi eleita”.
O desabafo público de Peixoto diz respeito à divisão, entre os candidatos a deputado do partido, do tempo de propaganda de rádio e TV e, principalmente, da cota do Fundo Eleitoral que cabe ao União Brasil. Essa distribuição é definida pelos dirigentes partidários. No caso do Espírito Santo, o controle do partido (e, portanto, da partilha dos recursos) está nas mãos de Rigoni.
Peixoto alega que, como presidente estadual do União Brasil e candidato à reeleição, Rigoni favoreceu a si mesmo. Falando à sua militância, o médico disse que o deputado age como “dono do partido” e descumpriu promessas feitas aos candidatos que toparam entrar no União Brasil. Ainda insinuou que houve comportamento desonesto por parte de Rigoni.
“Tem gente que não cumpre nem na campanha a promessa da campanha. É por isso que estou aqui para falar para vocês. Vocês estão vendo hoje os escândalos envolvendo Fundo Eleitoral, os escândalos envolvendo distribuição do tempo de TV. Isso é público, todo mundo vê. A pessoa é dona do partido, é presidente do partido, é tesoureiro, é dono do cofre e ele é candidato. Olha que conflito de interesses! Aí vem com balela de que é honesto e tem compliance. Não existe compliance em quem é dono do partido, que tira Fundo Eleitoral dos outros concorrentes. E ele tem nome: Felipe Rigoni. A maior fraude que foi eleita!”
O médico acrescentou que Rigoni “finge uma coisa, mas é outra”.
“No ado, ocorreram outras fraudes também. Nós votamos em uma pessoa que fingiram ser uma coisa e lá no Congresso fizeram outra. Mas esse eu vejo de perto no dia a dia, seja se apossando do partido, da estrutura partidária para si próprio, seja combinando valores e descombinando, seja tomando tempo de TV. […] Não serão as velhas práticas travestidas de nova política que vão me intimidar.”
Na eleição para a Câmara Federal, o União Brasil tem chapa completa no Espírito Santo, com 11 candidatos, entre os quais Rigoni e Peixoto, que concorre com o nome de urna Dr. Gustavo Peixoto.
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A resposta do partido
Na tarde desta sexta-feira (23), a coluna pediu uma resposta à assessoria de Felipe Rigoni. Em nota assinada pela Secretaria Geral do União Brasil (não por Rigoni), o partido declarou que todos os acordos foram cumpridos e que Peixoto recebeu mais recursos do Fundo Eleitoral que o próprio Rigoni para financiamento de campanha:
“O União Brasil ES teve reduzida a sua participação no Fundo Eleitoral, reada pela Nacional do partido. Mesmo assim, cumpriu os acordos para garantir condições mínimas de competitividade para todos os candidatos, reando recursos financeiros e oferecendo estrutura para gravação de programas eleitorais, mentoria de marketing digital, e de comunicação online e material impresso, com confecção de logotipo e adesivos pessoais, além da gravação de um minidocumentário para registrar a história da vida de cada um.
Importante ressaltar que os candidatos do União Brasil, por ser este o maior partido do país, contam também com a maior fatia no horário eleitoral gratuito.
O candidato Gustavo Peixoto obteve mais recursos partidários do que o próprio presidente do partido, Felipe Rigoni: R$ 800 mil, contra R$ 700 mil. Gustavo Peixoto tem ainda a liberdade de captar financiamento por sua própria iniciativa junto a seus apoiadores, observando a legislação eleitoral.”
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O contexto
Com a maior bancada atualmente na Câmara Federal, o União Brasil é um partido de direita que já nasceu gigante, no fim do ano ado, a partir da fusão de duas outras siglas: o tradicional Democratas (DEM) – descendente direto da Arena, que dava sustentação ao governo durante a ditadura militar – e o Partido Social Liberal (PSL), um outrora nanico que elegeu muitos deputados na esteira da vitória eleitoral de Bolsonaro, pela sigla, em 2018.
O partido ficou com a maior cota do Fundo Eleitoral, o popular Fundão.
Rigoni entrou no UB no fim do ano ado e preside o partido no Estado desde março deste ano. Quanto a Gustavo Peixoto, estava filiado ao Podemos, mas decidiu migrar para o UB, a convite de Rigoni, no dia 2 de abril, o último do prazo para a filiação de pré-candidatos na eleição deste ano.
Até o fim de julho, Rigoni se apresentava como pré-candidato a governador, mas não chegou a 5% em pesquisas de intenção de voto divulgadas pela Rede Gazeta e pela Rede Vitória em maio. Acabou desistindo de concorrer ao Palácio Anchieta para disputar um segundo mandato na Câmara Federal.
De acordo com as prestações de contas dos candidatos na página do TSE, Peixoto de fato recebeu mais recursos do partido que Rigoni até o momento. Foram-lhe reados R$ 800 mil da Direção Nacional do UB, além de R$ 50,8 mil da Direção Estadual.
Por sua vez, Rigoni recebeu R$ 710,6 mil da Direção Estadual. Sua arrecadação total, R$ 2,2 milhões, supera bem a de Peixoto, mas a maior parte é composta por doações de pessoas físicas.
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Por outro lado, a distribuição realmente está desigual entre os membros da chapa de federais. Para dar um exemplo, o vice-prefeito da Serra, Thiago Carreiro, já recebeu quase R$ 1,6 milhão da Direção Nacional e R$ 60,6 mil da Estadual. É praticamente o dobro da quantia reada a Peixoto.
Outros candidatos da chapa receberam até menos que Peixoto. O jornalista Wesley Sathler, por exemplo, foi contemplado pelo partido até agora com R$ 630,6 mil.
“Desunião Brasil”
Não é de hoje que o UB é chamado nos bastidores – maldosa, mas justificadamente – de “Desunião Brasil”. No Espírito Santo, desde que Rigoni assumiu a presidência, o partido, de “unido”, não tem muito. A própria chegada de Rigoni à presidência foi resultado de uma queda de braço vencida por ele contra o ex-senador Ricardo Ferraço (agora no PSDB).
Com a chegada de Rigoni ao comando estadual, todos os muitos deputados estaduais e federais que estavam no partido decidiram mudar de agremiação (exceto ele mesmo). Rigoni, então, montou as chapas de candidatos a deputado estadual e federal do partido à sua feição, com pessoas convidadas por ele mesmo, incluindo Gustavo Peixoto.
