Coluna Vitor Vogas
Rigoni levará União Brasil para Luiz Paulo. Denninho pede pra sair
Denninho pede a Rigoni para sair do União, recebe a liberação e já tem a carta de anuência nas mãos. MDB ou Podemos podem ser novo destino

Felipe Rigoni e Luiz Paulo conversam sobre “uma política de desenvolvimento para Vitória” (06/10/23). Foto: reprodução Instagram
O presidente estadual do União Brasil, Felipe Rigoni, decidiu apoiar o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) para a Prefeitura de Vitória em 2024 e vai levar o partido gerido por ele no Espírito Santo, com seus generosos recursos de campanha, para a coligação liderada pelo tucano.
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Isso, é claro, se Luiz Paulo for mesmo candidato novamente ao cargo hoje exercido por Lorenzo Pazolini (Republicanos). Até o momento, Rigoni não tem dúvida alguma de que Luiz Paulo o será. Se não for, o União Brasil vai reavaliar sua posição no jogo.
Rigoni e o ex-prefeito mantêm relação de extrema afinidade pessoal e política, começando pelo fato de ambos fazerem parte do mesmo aglomerado de forças no Espírito Santo: aquele liderado pelo governador Renato Casagrande (PSB). Os dois, inclusive, têm assento no Governo Estadual: Rigoni é secretário estadual de Meio Ambiente, enquanto Luiz Paulo é subsecretário estadual de Integração e Desenvolvimento Regional.
Além disso, os dois expressam grande sintonia de pensamento político. Em 2022 – mais ou menos entre março e julho –, Luiz Paulo foi o coordenador da formulação do plano de governo que Rigonij pretendia apresentar à sociedade capixaba se tivesse mesmo sido candidato a governador.
O problema é que, às vésperas do período de campanha, a pré-candidatura acabou abortada pelo próprio Rigoni, que preferiu, tardiamente, tentar renovar seu mandato na Câmara Federal (no que não teve êxito).
A proximidade, contudo, se manteve, bem como a mútua iração. Sempre que pode, Luiz Paulo rende elogios públicos a Rigoni, e vice-versa. O ex-prefeito tem o ex-deputado como referência dentro da nova geração de políticos capixabas; o ex-deputado toma Luiz Paulo como referência da geração do ex-prefeito, surgida nos anos 1990.
Denninho pede a Rigoni para sair do União. E recebe a liberação
Neste efervescente contexto de movimentações pré-eleitorais, o deputado estadual Denninho Silva pediu a Rigoni liberação formal para se desfiliar do União Brasil. E a recebeu, sem problemas. No que depender de Rigoni, Denninho tem e livre para sair, quando quiser (e se de fato o quiser). O deputado já tem nas mãos uma carta de anuência assinada por Rigoni.
Rigoni e Denninho tiveram uma conversa decisiva nessa quinta-feira (26), na qual o primeiro deu ao segundo, em acordo amigável, a liberação pleiteada. Os dois seguem parceiros políticos.
De posse dessa carta, se optar por tal caminho, Denninho pode entrar com uma ação de justificação de desfiliação no Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), sem correr o risco de sofrer a cassação do atual mandato na Assembleia Legislativa.
A legislação eleitoral acerca da fidelidade partidária considera a carta de anuência uma das circunstâncias que configuram “justa causa” e permitem a um vereador ou deputado trocar de sigla sem perder o mandato parlamentar. Em casos similares, o TRE-ES tem seguido esse entendimento.
“Hoje minha vontade é sair. Já tenho a carta de anuência na mão”, confirma Denninho. O deputado afirma ter grandíssima probabilidade de realmente pedir à Justiça Eleitoral para sair do União Brasil. Mas ainda não decidiu se usará essa carta (de anuência) guardada na manga. Prefere aguardar a solução definitiva do imbróglio relacionado ao comando do partido no Espírito Santo.
No fim de abril, a Executiva Estadual do União realizou convenção, na qual Rigoni, a princípio, foi reeleito para a presidência da sigla no Espírito Santo. O resultado da convenção, contudo, foi parar na Justiça, que chegou a suspender os seus efeitos e tirar Rigoni do cargo. Depois de algumas reviravoltas, o TJES acolheu recurso de Rigoni, em decisão posteriormente acompanhada pelo juízo de 1º grau.
Neste momento, ao que tudo indica, Rigoni enfim recuperou estabilidade no cargo… a menos que sofra novo revés jurídico e/ou reviravolta política – até porque o União vive em pé de guerra também em nível nacional.
Pelo sim, pelo não, Denninho diz que esperará até o início de novembro. Se até lá Rigoni estiver consolidado na presidência estadual, ele até ite ficar.
A permanência, porém, é mesmo muito pouco provável. As motivações de Denninho vão além dos dias de instabilidade interna vividos pelo União Brasil.
Outras motivações: projetos eleitorais distintos
Mentor político e parente de Denninho, o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, acaba de trocar o União Brasil pelo MDB. Nos bastidores, Euclério chegou a disputar a direção estadual do União com Rigoni, através de interposta pessoa: Amarildo Lovato, aliado do prefeito, foi autor de uma das ações que chegaram a derrubar Rigoni da presidência, posteriormente revertidas por este na Justiça.
No evento em que Euclério assinou a ficha de filiação no MDB, em uma casa de celebrações em Cariacica, no dia 16 de outubro, quem estava lá no palanque, atrás do prefeito e de outros figurões do MDB, era exatamente Denninho.
“Há uma probabilidade grande de eu sair. E, se eu sair, quero ir para um partido em que eu consiga montar chapa de vereadores em Vitória”, afirma o deputado estadual. Um caminho que se abre para ele é esse “novo MDB”, em plena reconstrução no Espírito Santo.
Pesa, ainda, nessa inclinação de Denninho, o fato destacado na abertura deste texto: hoje, o projeto do União Brasil em Vitória – ou o de Rigoni para o União Brasil – é diferente do projeto de Denninho.
Rigoni, como dito, quer levar o União para a coligação de Luiz Paulo. No que depender dele, isso já está certo.
Denninho, por sua vez, não tem a menor intenção de franquear seu apoio a Luiz Paulo.
Até poucos dias atrás, o deputado estava fechado com Lorenzo Pazolini. Mas ele acaba de romper com o prefeito – e o fez de maneira estrondosa, vocalizando insatisfações. “É fato: não vou mais apoiar Pazolini em 2024. O União Brasil também não, quer eu fique no partido ou não. Rigoni não vai apoiá-lo.”
Denninho acrescenta que agora vai avaliar “os grupos que vão se formar em Vitória”.
Cumpre lembrar que o deputado da Grande Goiabeiras mantém uma longa parceria política com o atual secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre Ramalho (Podemos).
Ainda não se sabe se Ramalho será candidato nas próximas eleições municipais. Mas é fato que a direção nacional e a estadual do Podemos desejam que ele seja candidato a prefeito de Vitória – muito embora o próprio secretário preferisse se lançar à Prefeitura de Vila Velha.
Ramalho em breve ará a comandar o Podemos em Vitória, por decisão do presidente estadual da sigla, Gilson Daniel. O deputado federal, aliás, também esteve no evento de de fichas de filiação de Euclério e outros mais ao MDB, no dia 16.
O Podemos, assim, também é um destino possível para Denninho, sob a sombra política de Ramalho.
