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Coluna Vitor Vogas

Rose de Freitas será a candidata de Casagrande ao Senado. Saiba por quê

E mais: os muitos bastidores do evento de Simone Tebet em Vitória, com direito a aparição (e “desaparição”) de Ricardo Ferraço e indiretas de Rose para Casagrande, Ramalho e Paulo Hartung

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Legenda fake: Casagrande e Rose exibem a certidão de casamento. Legenda verdadeira: Casagrande e Rose durante evento em Domingos Martins (12/06/2022). Foto: Hélio Filho/Secom

“No momento que ele vier a público e disser ‘Eu vou apoiar a Rose’, eu digo a vocês que vou ficar muito feliz.” A frase é da senadora Rose de Freitas (MDB), foi dita à imprensa nesta sexta-feira (15), durante ato de pré-campanha da presidenciável Simone Tebet em Vitória e traduz a convicção de Rose de que terá o apoio do governador Renato Casagrande (PSB) em sua campanha pela reeleição no Senado.

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Rose pode se preparar para em breve “ficar muito feliz” realmente. É só uma questão de tempo (possivelmente, poucos dias) para Casagrande anunciar o que já está sacramentado nos bastidores: Rose será mesmo a candidata do governador ao Senado. Essa escolha já está feita. E é um caminho sem volta.

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Se porventura ainda restasse 1% de dúvida quanto à resolução de Casagrande, foi a própria Simone Tebet, também filiada ao MDB, quem se encarregou de dirimi-la. De maneira explícita e enfática como ninguém havia feito até então, declarou duas coisas importantíssimas, que na verdade são duas faces da mesma moeda, em entrevista e em seu discurso a apoiadores: em primeiro lugar, ela mesma e o MDB nacional apoiam a reeleição de Casagrande; em segundo lugar, Casagrande apoia Rose na eleição ao Senado pelo Espírito Santo.

Segundo a senadora pelo Mato Grosso do Sul, o apoio do governador capixaba a Rose “já está selado”, como consequência natural do apoio que, ela garante, Casagrande já tem inclusive do MDB nacional:

“O apoio dele à senadora Rose de Freitas já está selado. Quem quer apoio tem que estar disposto a dar apoio. Ele, ao ter o apoio do MDB da Rose de Freitas, automaticamente vai apoiá-la. E política é isso. É uma estrada de duas vias.”

Pelo que indica Tebet, inclusive, não há nenhum problema no fato de Casagrande ter acabado de receber a confirmação oficial do ingresso do PT em sua coligação estadual, tampouco no fato de ele já ter declarado que votará em Lula e que só fará campanha para ele (e não para ela) na eleição presidencial:

“Os palanques regionais precisam ser respeitados”, disse Tebet. “E, a partir do momento que Casagrande vai ter, como tem, o apoio do MDB, é óbvio que dará apoio à nossa candidata ao Senado, Rose de Freitas”, emendou.

A própria Rose afirmou já ter ouvido isso de Casagrande: “Entre eu [sic] e Casagrande há um diálogo permanente, pelas coisas do Estado, da istração, na pandemia, ao longo desse caminho todo. Ouvi do Casagrande que ele tem essa vontade de estar comigo. Agora, acho que a palavra pública final, declarada, cabe ao governador fazer.”

Ele fará.

No Palácio Anchieta e no PSB, ninguém confirma abertamente que esse martelo já foi batido a favor de Rose. Mas já foi, sim.

Reservadamente, fontes do partido e do Palácio confirmam que a decisão já está tomada (ratificando a fortíssima tendência já exposta e esmiuçada aqui). E explicam que, se Casagrande ainda não torna pública essa decisão, isso se deve tão somente a uma cautela extra para não melindrar aliados que ainda possam eventualmente sonhar com essa condição de “candidato ao Senado ungido pelo governador”. Em um momento decisivo de formalização de apoios, é melhor não contrariar ninguém.

“São dez pessoas querendo entrar por duas portas”, resumiu um membro do PSB, em alusão às candidaturas majoritárias a vice-governador e a senador (com o apoio declarado de Casagrande). Por uma dessas duas portas, Rose já ou há muito tempo, trancou-a e escondeu a chave na cabeleira negra.

Por que Rose de Freitas?

Existiam ou existem outros possíveis candidatos ao Senado por partidos que apoiam Casagrande, igualmente interessados em se lançar com o apoio do governador. Um dos cotados era o deputado federal Josias da Vitória (PP), o qual, contudo, nunca se declarou publicamente interessado em ser candidato ao Senado. Só o seria mesmo se o cavalo asse arreado para ele montar, ou seja, se fosse o candidato do governador. Não o será, então deve mesmo concorrer à reeleição na Câmara dos Deputados.

Outro cotado é o ex-secretário estadual de Segurança Pública Alexandre Ramalho (Podemos). Mas sua situação é completamente oposta à de Da Vitória. Ao contrário do deputado, o coronel não só declara interesse total em disputar o Senado como afirma que, se não tiver o apoio de Casagrande (como gostaria de ter), pretende se lançar mesmo assim por uma chapa avulsa (só pelo Podemos).

Essa é uma questão que ele terá de resolver com o Podemos e com o presidente estadual do partido, Gilson Daniel. Pode até ser que ele se viabilize. Agora, apoiado pelo governador, pelo menos de modo aberto, Ramalho pelo jeito não será, até porque 1) a vaga, como já dito, é de Rose; 2) o próprio governador já afirmou, em mais de uma ocasião, que prefere que seu grupo de partidos aliados só lance um candidato ao Senado.

Mas, tornando à nossa pergunta, por que a preferência de Casagrande por Rose?

Primeiro, porque ela é a presidente estadual do MDB e, apoiando-a, Casagrande garante a adesão do MDB à sua própria coligação – como bem explicitou Simone Tebet. Com isso, ganha o pacote completo: a militância emedebista no Estado inteiro a seu favor, o tempo de TV do partido e parte de seus recursos do Fundo Eleitoral. Além disso, impede que Rose se desvie, levando todos esses ativos, para o palanque de outro candidato a governador – e ao longo desse processo não faltaram ameaças bem sutis por parte da senadora, insinuando que poderia fazer isso se não fosse apoiada por Casagrande.

> Rose se licencia do Senado para se dedicar à campanha eleitoral

Em segundo lugar, como senadora municipalista que é, Rose mantém notória influência sobre uma legião de prefeitos e vereadores de cidades do interior, que hão de trabalhar em prol de sua reeleição ao Senado e que, naturalmente, estando ela fechada com Casagrande, farão campanha também pela reeleição do governador. Campanha casada.

Terceiro, mas não menos importante: numa campanha eleitoral polarizada como a que temos nacionalmente – ainda pior nesse aspecto do que já foi a de 2018 –, Casagrande não ficou em cima do muro. Como ele mesmo disse ao lançar sua pré-candidatura à reeleição na última segunda-feira (11), ele não é de dissimular seu lado político. E seu lado, no caso, é o de Lula, contra a reeleição de Bolsonaro.

Nesse sentido, Rose a mais “facilmente” ao lado dele, e é muito mais natural que ele a apoie. Hoje, a emedebista é uma senadora de centro, com origens naquele MDB histórico que lutou contra a ditadura militar… Nesta sexta mesmo, estava ao lado de uma Simone Tebet que não poupou críticas a Jair Bolsonaro. Já Ramalho e Da Vitória são apoiadores e eleitores assumidos do atual presidente.

Como é que Casagrande explicaria, em plena campanha, votar e pedir votos para Lula, como já disse que fará, e ao mesmo tempo pedir votos para um candidato ao Senado que é do time Bolsonaro? No mínimo, muita incoerência – e já bastam as muitas que se podem apontar na coligação heterogênea que ele montou em torno de si, para usar um termo bem suave.

Por que Simone Tebet disse o que disse?

Por fim, é preciso avaliar o que foi que levou Simone Tebet a afirmar com tamanha convicção o que afirmou no evento com Rose, sendo a primeira a anunciar publicamente esse acordo entre ela e Casagrande como algo sacramentado?

Por um lado, Tebet pode ter dito isso só para pressionar um pouco mais o governador a ficar com Rose, dando uma força, assim, à sua “professora e mestre” (como se referiu à colega de bancada no Senado). O bom e velho jogar a granada e sair correndo: veio, falou, foi embora cuidar da campanha presidencial Brasil afora e deixou Rose se entendendo com Casagrande aqui sobre as questões locais.

> As propostas de Simone Tebet para o Espírito Santo

Por outro lado, estamos falando de uma candidata à Presidência da República… Em política nada é impossível, mas custa crer que alguém dessa envergadura correria o risco ar a vergonha de sofrer um desmentido público daqui a poucos dias, se não tivesse mesmo informações muito seguras de bastidores de que esse acordo já está mesmo selado. “Ela é candidata à Presidência da República. O jogo dela é mais acima um pouquinho”, opina um integrante do PSB de Casagrande.

Simone Tebet se reúne com Casagrande no gabinete do governador. Foto: assessoria de Simone Tebet

No PSB, há partidários das duas teorias. Mas todos concordam num ponto: Rose em breve ficará muito feliz, quando o governador tornar público o que já está mesmo selado.

Aliás, já deve estar rindo sozinha.

Ricardo Ferraço: a manchete frustrada

Quanto a Ricardo Ferraço (PSDB), ao que tudo indica, será mesmo o candidato a vice-governador na chapa de Casagrande. Por sinal, o ex-senador e ex-vice-governador foi responsável pela nota “só acredito porque estava lá e vi com meus próprios olhos que a terra há de comer”. Numa raríssima aparição pública, compareceu ao ato de pré-campanha de Simone Tebet para prestigiá-la.

Fez um breve pronunciamento, em que enalteceu a candidata à Presidência, que tem o apoio da federação formada pelo PSDB com o Cidadania, e ainda declarou apoio a Rose na corrida ao Senado no Espírito Santo. Não quis dar declaração à coluna. E foi embora discretamente, antes mesmo que Simone começasse a discursar, o que gerou até uma pequena saia justa. A senadora o elogiava, quando percebeu a sua ausência: “Cadê o Ricardo?!? Ah, teve que sair…”

Gandini: é vice mesmo

O Cidadania está federado com o PSDB de Ricardo. O deputado estadual Fabrício Gandini, presidente do Cidadania no Estado, sinaliza que a ideia de indicar um candidato a senador já foi pelos ares. É vice mesmo: “Neste momento, nós temos uma discussão mais clara de indicar um vice em alguma das chapas, até pelos nomes que estão sendo colocados”.

Juninho conta os seus planos

Quem também compareceu ao ato de Tebet foi o ex-prefeito de Cariacica Juninho, do Cidadania. Cotadíssimo para ser um dos dois suplentes de Rose na chapa dela ao Senado, ele disse à coluna que colocou seu nome à disposição ou para essa vaga na chapa de Rose (e só na de Rose) ou para candidato a vice-governador, “dependendo da composição”. Se nenhuma dessas opções vingar, ele não será candidato a nada neste pleito.

Juninho, portanto, não quer ter que pedir votos para si mesmo.

“O que nós temos de certeza, e digo isso em todos os cantos, é o meu apoio a Rose de Freitas, não só pelo que ela fez pela cidade de Cariacica, mas por tudo o que ela representa em nível de Estado”, afirmou o ex-prefeito.

Rose sobre Juninho

Como jogador de futebol, Juninho nunca jogou no Dínamo de Kiev, time da Ucrânia, nem no Dínamo Moscou, da Rússia, mas ganhou este elogio de Rose: “Juninho é um dínamo na política”.

Vandinho sobre PT: “constrangimento”

Com um pé na coligação liderada por Casagrande, o PSDB e o Cidadania podem ter que dividir o palanque em torno de Casagrande com o PT, que acaba de ingressar oficialmente na mesma coligação. O deputado estadual Vandinho Leite, presidente estadual do PSDB, afirma que a presença do PT causa “muito constrangimento” aos tucanos, mas não representa impedimento para que a federação PSDB/Cidadania também entre na coligação do atual governador:

“Nunca votei e continuo não votando no PT. E, quando Contarato ainda era pré-candidato a governador, nunca colocamos o PT nem como opção possível para apoiarmos. O PT na coligação do governador cria muito constrangimento para nós, por causa do histórico do PSDB com o PT. Mas eu não diria que cria um veto.”

Luzia com Tebet, Rose, Meneguelli e Erick

Amicíssima de Rose, a ex-deputada estadual Luzia Toledo compareceu ao evento de Simone Tebet em Vitória. Ela tentará voltar à Assembleia e, após muitos anos no MDB, migrou para o Republicanos para salvar a própria candidatura, na debandada que acometeu o MDB em março. Mas diz que vai votar em Tebet para presidente: “Eu sou Simone Tebet. Acho que ela representa as mulheres do Brasil”.

Na disputa presidencial, o novo partido de Luzia vai apoiar Jair Bolsonaro.

Na eleição ao governo estadual, Luzia disse que ficará com o pré-candidato do Republicanos, Erick Musso: “Apoio Erick”.

Já na disputa pelo Senado, ficou meio em cima do muro. O Republicanos tem candidatura própria: a do ex-prefeito de Colatina Sérgio Meneguelli (nome que Luiza até demorou um pouco para lembrar).

“Sempre serei amiga de Rose. E sou muito partidária. Nosso partido tem candidato, que é o…… Serginho Meneguelli. Mas considero a candidatura da Rose uma candidatura forte.”

A “primeira vez” de Rose

Rose de Freitas explicou por que é importante para ela a parceria eleitoral com Casagrande:

“Seria a primeira vez que eu teria alguém do Executivo apoiando uma candidatura majoritária minha, e eu confesso a você que eu gostaria de ter, porque eu tive que pedir licença ao Senado para poder fazer campanha, porque não dava tempo. Então é evidente que, se o governador ajudar, fica uma caminhada mais leve para mim, que sou apoiada em mais de 70 municípios.”

Em 2014, quando foi candidata ao Senado, Rose compôs a chapa do MDB com o então emedebista Paulo Hartung, candidato ao Executivo estadual contra o então governador Renato Casagrande. Logicamente, Casagrande não apoiou Rose. Em 2018, quando Rose tentou chegar ao Palácio Anchieta, o governador era Paulo Hartung, que tampouco a apoiou.

Rose alfineta Hartung

Rose inclusive deu uma sutil cutucada no eterno desafeto, Paulo Hartung. Em 2014, a aliança entre eles foi proforma. E, embora os dois tenham vencido as respectivas disputas, um não pediu votos para o outro.

“Se eu ficasse na dependência de que alguém segurasse a minha mão, tantas vezes já deixaram a minha mão lá atrás, inclusive na minha primeira eleição de Senado [em 2014].”

O chega pra lá de Rose em Ramalhão

Dizendo-se totalmente contra a possibilidade (legal) da “candidatura avulsa”, Rose mandou um recado cifrado para Alexandre Ramalho e também para o governador: quer apoio de Casagrande, sim, mas não de “meio Casagrande”.

“Sou contra a ‘candidatura avulsa’. Você tem um time, você torce por ele. Eu tenho um lado na política. Meu lado não é meio Casagrande, porque tem Audifax candidato a governador, tem o Guerino [Zanon] que foi prefeito. Eu poderia até falar assim: ‘Olha, onde o Guerino estiver e o pessoal me apoiar, eu estou com Guerino’. Não! Eu estou no projeto com Casagrande, pela reeleição, porque eu acho que o Estado do Espírito Santo precisa disso. Se eu não sou meio Casagrande, ele não será meia Rose.”

Ou seja, Rose quer “dedicação exclusiva”.

Rose elogia o PT

Por fim, a senadora declarou que não se incomoda nem um pouco com a entrada do PT na coligação de Casagrande. “Não, jamais. Sou fruto do processo democrático deste país. O PT é uma força política enorme no Brasil, no Estado do Espírito Santo, e o processo político vai juntar aqueles que tiverem, naquele contexto, maior afinidade. Portanto, não incomoda, muito pelo contrário.”

Em teoria, o PT também pode lançar candidatura avulsa ao Senado, mesmo coligado com o PSB de Casagrande na eleição para o governo estadual. A conferir.

Errata

Na primeira versão deste texto, publicada na manhã de sábado (16), tínhamos escrito que, no seu curto pronunciamento, Ricardo Ferraço “se limitou a enaltecer a candidata à Presidência [Simone Tebet]”. No domingo (17), corrigimos a informação, acrescentando sua declaração de apoio a Rose.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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