Plural
ES sedia etapa da COP30 e fica no centro da agenda climática mundial
Daniela Klein e Elias Carvalho comentam sobre a importância do Espírito Santo como sede de uma das etapas da COP30

COP30 irá discutir a ODS 13, que marca a necessidade de mudança global. Foto: Reprodução
Quando o Espírito Santo foi confirmado como sede de uma etapa oficial da COP30, com reconhecimento e apoio da Comissão Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, muita gente ainda tratou a notícia como uma etapa preparatória, daquelas que aquecem o debate antes do palco principal, mas o que está sendo realizado aqui a longe de ser apenas um aquecimento ou um espaço de apoio lateral. O evento integra o processo formal de escuta e construção da proposta brasileira rumo à COP30 em Belém, e isso implica responsabilidade compartilhada, articulação federativa e uma capacidade de entrega que ultraa qualquer lógica de seminário temático.
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Essa diferença, embora pareça sutil para quem acompanha de fora, redefine por completo o papel de um estado que escolhe se posicionar como território de formulação, e não apenas de circulação. O Espírito Santo assume, com isso, não só a oportunidade de sediar, mas o compromisso de se tornar referência nacional em conteúdo, articulação e síntese. E essa escolha, ainda que silenciosa, carrega um gesto político claro: o de aceitar participar da elaboração de um projeto de país com foco em clima, governança, justiça e futuro.
O desenho da conferência reflete essa decisão. O processo de curadoria, conduzido pelo Instituto Sustentabilidade Brasil, partiu de uma escuta estendida a diferentes territórios, linguagens e campos de saber, e resultou em uma programação que não se organiza por caixas estanques nem por blocos temáticos rígidos, mas por articulações reais entre os grandes dilemas e interdependências da sustentabilidade contemporânea. Aqui, energia conversa com justiça climática, agro se cruza com biodiversidade, educação atravessa finanças, saúde aparece como frente de ação e não mais como consequência da crise, e assim o todo se forma como rede viva de um país que precisa parar de fingir que os temas se resolvem separados.
Não há solto, nem convidado encaixado. Cada parte da programação foi construída como etapa de um processo, que se completa nos Grupos Técnicos de Trabalho, nas salas da Jornada Científica, nos relatórios que sairão das escutas e nos vínculos que se constroem quando se retira da conferência a lógica do palco. O resultado disso se mede além de alcance de mídia ou presença institucional, na capacidade que o evento tem de devolver à sociedade o que ouviu, não como transcrição, mas como proposta.
A conferência também marca, com firmeza e sem hesitação, a adesão ao ODS 18 — um compromisso que ainda não integra formalmente o conjunto das Nações Unidas, mas que já se impôs como demanda ética de um tempo em que defensores ambientais continuam sendo ameaçados ou eliminados por fazerem exatamente o que a pauta climática exige de todos nós. A presença de Lavito Person Motta Bacarissa, secretário-executivo da CNODS, traz ao Espírito Santo um reconhecimento institucional que só reforça a centralidade da pauta e a escolha de quem decidiu sustentar esse debate com seriedade, sobretudo porque a Comissão está vinculada à Secretaria-Geral da Presidência da República, pasta responsável pela articulação nacional da COP30, o que confere à conferência respaldo técnico e conexão direta com a engrenagem federal que conduz o posicionamento do Brasil no cenário internacional.
Nada disso seria possível sem o entendimento de que esse evento, embora idealizado por uma organização da sociedade civil, deixou de ser de um só. A conferência é agora de muitas mãos, vozes, instituições, e também do próprio Estado, que ao sediá-la se torna corresponsável por seu resultado, sua ambição e sua entrega. E é justamente isso que torna esse momento tão relevante. Não se trata mais de observar o debate de fora, mas de contribuir para ele, moldá-lo, tensioná-lo e, quando necessário, encará-lo com coragem.
Não há sustentabilidade possível onde não há diversidade real no debate, e não há diversidade que se sustente sem escuta, sem desconforto, sem revisão de práticas. O Espírito Santo, ao abrir esse espaço, não pode se apresentar como anfitrião decorativo, mas como território de inflexão, onde discursos e práticas terão de se encontrar, sob o risco de a palavra sustentabilidade perder de vez o sentido que um dia já tentou carregar. A estrutura está montada, os compromissos estão assumidos, os olhos do país estão voltados para o território capixaba.
*Daniela Klein é nascida em Minas Gerais e criada no interior de São Paulo. Começou sua carreira no Espírito Santo, Estado onde desenvolveu sua trajetória profissional orientada para o impacto positivo: atuou como consultora de ESG, liderou iniciativas de marketing verde e ganhou reconhecimento por traduzir pautas ambientais complexas em linguagem ível. Possui três pós-graduações que am por gestão de energia, marketing e gerenciamento de crises. É CEO do KICk Group, consultora ESG e diretora do Instituto Sustentabilidade Brasil, ela também se tornou coautora do livro “Mulheres ESG – Cases na prática”, da Editora Leader.
*Elias Carvalho reúne experiências em comunicação, produção de eventos, articulação territorial e política pública. Presidiu a Rota Imperial, participou do Conselho Estadual de Turismo e foi conselheiro da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) por seis anos, defendendo uma agenda de desenvolvimento com foco sustentável. Criou e realizou eventos como o Festival de Inverno de Guaçuí, Penha Roots, Festival de Jazz e Blues de Guaçuí, Festival Gastronômico do Caparaó, Prêmio Marca Líderes, Fenecap, Festa do Flashback e diversos seminários e conferências voltados à sustentabilidade e à economia local. Ele é presidente do Instituto Sustentabilidade Brasil.
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