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Coluna Vitor Vogas

Entrevista: Manato apresenta suas armas para revanche com Casagrande

Candidato da “direita conservadora” aposta em polarização com o governador

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Em seu escritório, Carlos Manato exibe seu plano de governo (em fase de elaboração). Ao fundo, o retrato do presidente Bolsonaro e as bandeiras do Espírito Santo, do Brasil e do seu novo partido, o PL. Foto: Vitor Vogas

Os carros parados ao redor do imóvel na Mata da Praia não dão margem a dúvida: estou no endereço certo. Quatro deles ostentam adesivos favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Um deles ainda traz a hashtag #ForaCasagrande. Dentro do imóvel, é o próprio Carlos Manato quem me recebe, no conhecido estilo boa-praça, após terminar de fazer um lanche com apoiadores: pão com ovo e queijo para todos.

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No escritório pessoal do ex-deputado, onde se dá a entrevista, as marcas da filiação de Manato ao “bolsonarismo raiz” ficam ainda mais evidentes: do retrato do presidente na parede ao capacete estilizado de motociclista que Manato pretende lhe entregar em mãos; da enorme pistola de madeira a livros do “selo armamentista”, como “Atire bem” (Rodrigo Menezes) e “Sobre armas, leis e loucos” (Bene Barbosa). No cômodo anexo, adaptado por Manato, uma cozinha divide espaço com um pequeno estúdio, onde funciona o bunker digital do ex-deputado: é ali que ele grava seus podcasts e transmite suas lives, marcadas por um bombardeio de críticas à istração de Renato Casagrande (PSB).

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Na entrevista propriamente dita, publicada na íntegra abaixo, também sobressaem as duas principais estratégias de campanha de Manato na eleição estadual: sua identificação política com Bolsonaro e sua oposição ao atual governador – a quem ele agora desafia para uma revanche, quatro anos após ter perdido em 1º turno para o socialista em 2018.

Manato aposta em uma disputa polarizada entre os dois, como representantes da esquerda e da “direita conservadora”, mas acredita que, na realidade, são os eleitores de centro que decidirão o páreo, optando por quem apresentar as melhores propostas concretas para os problemas dos capixabas. Engana-se, aliás, quem pensa que Manato ficará só repetindo “Bolsonaro” e tratando de temas nacionais caros aos partidários do presidente.

“Eu não vou discutir a transposição do Rio Amazonas. Vou discutir a Mata Atlântica. As pessoas achavam que eu ia pegar as bandeiras do Bolsonaro e sair por aí… Não. Eu vou discutir projetos com a sociedade civil organizada, como já estou fazendo há um ano.”

Agora filiado ao PL de Magno Malta, partido no qual Bolsonaro também se abrigou, Manato chega a dizer que até discorda do presidente em alguns temas. Surpreendentemente, cita o exemplo da vacinação em massa contra a Covid-19 – jamais incentivada por Bolsonaro, e sim desencorajada por ele com uma série de declarações negacionistas.

“Eu tomei as três doses da vacina. Eu tomei. O presidente se posicionou que não quis tomar. Continuo defendendo isso. […] Acredito que vale a pena se vacinar. […] Ele não foi convencido de que tinha que tomar […]. Mas botou à disposição a vacina para quem quisesse. […] Temos que respeitar essa posição.”


Confira a entrevista completa:

Após ter ficado de fora do 2º turno por pouco em 2018, como você vem para essa campanha?

Muitas pessoas pensam que só vou ficar falando de Bolsonaro, do governo federal, e não vou debater o Estado. Mas não. Eu não vou discutir com ninguém sobre o STF, sobre o Congresso Nacional. Vou discutir sobre a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas do Estado. Vou debater os temas do Espírito Santo: a saúde no Estado, a segurança, a educação, o turismo, a infraestrutura… Eu não vou discutir a transposição do Rio Amazonas. Vou discutir a Mata Atlântica. As pessoas achavam que eu ia pegar as bandeiras do Bolsonaro e sair por aí… Não. Eu vou discutir projetos com a sociedade civil organizada, como já estou fazendo há um ano. Já fui nos 78 municípios.

O senhor, então, durante a campanha, não ficará tocando em temas afetos ao Congresso e ao governo federal, mas que são muito caros ao presidente Bolsonaro e à militância bolsonarista, como a legislação sobre armas de fogo, para dar só um exemplo?

Todos os temas que eu for chamado para conversar, eu vou me posicionar. Não vou me omitir e não vou ficar em cima do muro. Sou contra o aborto, ponto, como médico, ser humano e cristão. Se for para discutir posse de armas, eu vou discutir. Eu não vou me negar. Mas não quero me aprofundar nesses temas. Vamos fazer uma assembleia para discutir a Amazônia? Não. Vamos fazer uma assembleia para discutir a Mata Atlântica.

Na sua autoavaliação, qual é a principal diferença do Manato que hoje se prepara para concorrer novamente ao governo daquele candidato de quatro anos atrás?

Aquele de quatro anos atrás não teve tempo de conversar com a sociedade. Não deu tempo de dialogar com todos os segmentos. Agora, a seis meses da eleição, já tenho um plano de governo praticamente pronto, com propostas para a segurança, a saúde, escolas cívico-militares. Não tive essa oportunidade em 2018. Tive que debater algumas coisas durante a campanha. Não tive planejamento. Não pude ir em grande parte dos municípios porque não deu tempo. Não tinha helicóptero, recursos, não tinha nada! Então, o Manato agora está mais preparado e mais maduro.

Em 2018, a sua candidatura ao Palácio Anchieta foi fechada e anunciada praticamente em cima do fim do prazo para registro das chapas…

Eu dormi candidato a deputado federal e acordei candidato a governador. Redigi meu plano de governo no final de semana na perna, na base do improviso, e não pude me aprofundar em nada. Apesar que teve um item lá do meu plano de governo que virou lei federal: o das casas para os policiais militares.

O senhor diz que não ficará só discutindo temas nacionais. Mas a associação com o bolsonarismo e com a pessoa do presidente estará bastante presente em sua campanha?

É lógico, porque eu preciso mostrar à população que um governador bem relacionado com o governo federal e com o presidente é bom para o Estado. Tem muitos programas federais que o governo estadual não usa aqui.

Por divergência política?

Exatamente. Não vão atrás. Agora mesmo, a compra de alimentação no Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento], não se cadastraram para comprar alimentação do pequeno agricultor para as escolas. Escolas cívico-militares, eles não se cadastraram. Dinheiro que perderam lá em São Mateus para a ampliação do Hospital Roberto Silvares e outras verbas que foram perdidas. Não tem essa interação. O Criança Feliz, do Ministério da Educação, o governo não se prontificou a fazer nada. E por aí vai. Nós estamos muito alinhados com o governo federal. Mas nós também podemos ter algumas divergências, não tem problema nenhum. Em alguns pontos, a gente pode divergir.

Com o presidente, o senhor quer dizer?

É. A gente não precisa estar 100% alinhado em alguns pensamentos.

Em seu escritório, Carlos Manato mostra a enorme pistola de madeira que ganhou de um apoiador. Foto: Vitor Vogas

O senhor pode me dar um exemplo?

Eu tomei as três doses da vacina. Eu tomei. O presidente se posicionou que não quis tomar. Continuo defendendo isso. Mas já concordamos que não tem que haver o aporte vacinal.

O senhor, então, acredita na eficácia das vacinas?

Eu acredito que vale a pena você se vacinar.

Medicamente falando?

Sim.

Elas funcionam? Salvam vidas?

Eu acredito que funcionam. Tenho dúvida nas crianças, por causa do RNA mensageiro. Mas o que eu vou fazer no dia 1º de janeiro [dia da posse do próximo governador]? Não se cobra mais aporte sanitário no Espírito Santo, que o presidente também concorda que não tenha.

Como médico que é, como o senhor avalia o pensamento e o discurso do presidente Bolsonaro em relação a esse tema tão importante para a população brasileira?

Vamos voltar ao dia 1º de janeiro: de manhã, estará proibido se exigir aporte sanitário no Espírito Santo. De tarde, estarei lançando uma grande campanha para dar publicidade à vacinação, dando ao binômio médico e paciente a liberdade de escolher.

Certo, mas esse é o senhor. No caso da ação (ou inação) do presidente em relação a esse tema específico, o senhor sentiu falta de uma campanha maior de incentivo, inclusive incentivo pessoal por parte dele, à vacinação em massa dos brasileiros?

Ele em si não foi convencido de que tinha que tomar a vacina, como milhões de pessoas não foram convencidas. Mas ele botou à disposição a vacina. No Espírito Santo, foram milhões de doses da vacina, para quem quisesse. Teve vacina para todo mundo. Quantas vacinas o governo do Estado comprou? Você sabe?

Desconfio que o senhor vai me dizer “zero”.

É isso aí. Não comprou nenhuma. Foi o governo federal que comprou e colocou à disposição. Não faltou para ninguém. Então, mesmo ele não querendo, porque não o convenceram, ele colocou à disposição. A gente tem que respeitar essa posição.

Carlos Manato lanchando com apoiadores em seu escritório na Mata da Praia. Foto: Vitor Vogas

Voltando à sua campanha, o senhor acha que será o único candidato bolsonarista nesse páreo estadual, verdadeiramente identificado com o presidente da República?

Sim, vai ser eu [sic], porque nós estamos defendendo essas coisas há muito tempo. O que acontece contra nós é a narrativa ruim. É a narrativa. É o governo do Estado, o partido do governador [o PSB], sempre entrando contra o presidente, várias vezes, mais de 30 representações no STF, pedindo cassação, pedindo impeachment, pedindo tudo. Eu me lembro, em 2019, quando veio o programa do presidente para privatizar a Codesa, o governo do Estado queria estadualizar. Em 2019, eles fizeram a Companhia de Gás. Em 2021, cancelaram. Então, é uma incoerência que está aí. A nossa linha é Deus, pátria, família, contra o aborto, mas isso é o conservadorismo, não é a direita. Não é programa de governo. É o que nós somos. Lá na educação, por que botaram “filiação 1” e “filiação 2”? É “pai” e “mãe” desde 1930. Para que isso agora?

Mas, entre todos os que hoje se apresentam como pré-candidatos ao governo, o senhor se considera o único autêntico representante do presidente Bolsonaro?

Entre os pré-candidatos ao governo, sim. Na militância, sim. Eu sempre atravessei a Terceira Ponte para a Praça do Papa. Quando [ele] foi questionar o STF, eu estava junto para questionar o STF.

E se outros candidatos começarem a se apresentar como bolsonaristas durante a campanha, tentando “se apropriar” desse vínculo político com o presidente?

Eles podem ficar à vontade para fazer o que quiserem, mas ninguém mais é bobo. A internet está aí. As redes sociais estão aí. Está tudo lá: quem falou mal de Bolsonaro, quem não falou, quem falou bem de cada um. Está tudo registrado lá. A pessoa tem que ter o discurso e a prática. Então, fiquem à vontade. Bolsonaro não é meu, não. Bolsonaro é do povo.

De todas essas pré-candidaturas que estão surgindo aí, quem o senhor acha que realmente é candidato?

Manato só.

E Renato, não é?

Renato, que é a ordem natural, e Manato. O resto eu pago para ver.

O senhor tem algum 0,001% de dúvida de que o governador concorrerá à reeleição?

Não existe isso.

E quanto aos demais? Quem o senhor aposta que possa vingar?

Quem está com muita vontade, que eu tenho conversado bastante, é o Audifax. Ele deixou claro para mim que, se ele conseguir mais outro partido que o viabilize em tempo de televisão, ele é candidato. Ele só não vai sair se for só a Rede. Então, isso é muito interessante para nós. Ele é o único, além de Manato, que estou vendo andando em alguns segmentos.

E quanto a Erick? Rigoni? Ricas? Guerino? Colnago? Bota fé em algum deles?

Eu prefiro que eles falem sobre isso. Eu respeito todos eles. É legítimo. Como quero que respeitem minha candidatura. Não quero que ninguém tente tirar minha candidatura. Agora, quem está na alça de mira mesmo, falando há um ano que é candidato, contra o governador que está há três e meio falando, é Manato.

Em seu escritório na Mata da Praia, Manato exibe capacete que quer dar de presente a Jair Bolsonaro. Foto: Vitor Vogas

Porém, se mais candidatos se viabilizarem…

É melhor.

Quanto mais, melhor?

Lógico. Tem que ter pelo menos quatro.

Para levar a eleição para o segundo turno?

Lógico. Nós perdemos a eleição na vez ada por 5%.

E por falta de candidatos?

Sim. Quando eu ei a Rose [de Freitas], ela recolheu a campanha dela. Tive 27,5% [dos votos válidos] e não fui para o segundo turno.

Se houvesse mais candidatos, o senhor teria chegado ao segundo turno contra Casagrande?

Ou se a Rose tivesse ido até o final. Mas ela mergulhou.

A esta altura, as pesquisas eleitorais apontam que nós tendemos a ter novamente uma eleição à Presidência polarizada entre petismo e bolsonarismo, como a de 2018. O senhor prevê uma eleição polarizada também ao governo do Espírito Santo, não necessariamente com um candidato do PT, mas com certeza entre a esquerda e a direita?

Acho que no Espírito Santo a gente vai ter: a direita conservadora e a esquerda. E os eleitores de centro vão escolher o “finalmente”. Tem a esquerda separada lá, a direita conservadora, e o centro vai decidir. Quem tiver os melhores projetos vai conquistar os eleitores do centro. O centro vai parar, vai observar, não vai querer radicalismo de nenhum dos dois lados. Acho que o centro vai parar e vai pensar “qual é o projeto que está aqui e qual é o projeto que está aqui?”. Quem convencer a população que tem os melhores projetos e propostas vai ser o governador do Estado.

O senhor acredita, então, que essa polarização nacional vai se replicar aqui?

Vai se replicar. De um lado, a direita conservadora; do outro, a “esquerda festiva”; e o centro parado, observando. O eleitorado de centro vai ficar observando. É o eleitorado que quer saber do emprego, da alimentação, da distribuição de renda, do transporte coletivo, da infraestrutura, da barriga cheia, da saúde, da Polícia Militar, da segurança pública… Essas pessoas vão ficar esperando quem é que vai apresentar o melhor projeto. Quem não tiver projeto está fora.

O centro, então, vai decidir a eleição, entre o senhor e Casagrande?

Exatamente. De acordo com os projetos. O centro não vai para nenhum dos dois por ideologia. Vai por projeto de governo.

Carlos Manato no estúdio montado por ele em seu escritório na Mata da Praia. Foto: Vitor Vogas

itindo que a tendência é que tenhamos, também aqui, um cenário de eleição dividida entre direita e esquerda… Se Contarato (PT) entrar na disputa contra Casagrande, isso é bom para o senhor na medida em que divide os votos da esquerda, certo?

Eu acho. Contarato entrando, é bom para mim, assim como seria ruim para mim a entrada de uma pessoa da direita conservadora mesmo. Entrar um da esquerda é ruim para ele.

E o senhor corre esse risco de surgimento de uma ameaça no mesmo campo?

Eu não estou vendo ninguém. Se Soraya [Manato] entrasse, brigasse comigo e viesse candidata a governadora… Essa me atrapalha, porque ela é conservadora autêntica.

Tem alguma chance, deputado? (Risos)

(Risos) Zero. Então acho que vai ter uma polarização no início, depois as pessoas vão olhar os projetos dos dois. Quem for mais convincente e tiver propostas mais concretas é que vai ser o próximo governador. Mas eu tenho uma semelhança com o governador…

Os dois são candidatos a governador? 

Sim, isso também. E nós dois somos botafoguenses.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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